Pássaro



 

 

Morte de pássaros está ligada a inseticidas

Aumento do uso de agrotóxicos na Europa é acompanhado da redução da população de aves silvestres, aponta estudo holandês

 

Brasília – Pesquisa publicada ontem da revista Nature sugere que pássaros de áreas rurais europeias sofreram enormes declínios populacionais nas últimas três décadas. E por trás do fenômeno parece estar o aumento do uso de pesticidas. O estudo indica que os produtos usados para afugentar pragas das lavouras não prejudicam apenas as abelhas – cujo desaparecimento já havia sido ligado ao uso dos inseticidas – mas também os bichos emplumados. 

“Nossos resultados sobre as quedas nas populações de pássaros sugerem que os neonicotinoides (um tipo muito utilizado de pesticida) representam um risco ainda maior do que imaginávamos. Efeitos catastróficos em cascata devem receber mais atenção dos pesquisadores que se dedicam a investigar os ecossistemas”, diz Caspar Hallmann, principal autor do estudo e pesquisador da Universidade de Radboud, na Holanda.

O cientista verificou dois levantamentos nacionais da Holanda que monitoraram o crescimento e o declínio de espécies de pássaros, além da qualidade da água, entre 2003 e 2009. Com isso, ele conseguiu investigar a extensão média das concentrações de um pesticida da família dos neonicotinoides chamado imidacloprida. Foram selecionadas 15 espécies de pássaros para verificar a relação entre a população dos animais e a quantidade de agrotóxicos no meio ambiente. Nove delas se alimentam exclusivamente de insetos. 

As populações de pássaros em terras agrícolas locais foram negativamente afetadas pela concentração da imidacloprida: 14 das 15 espécies estudadas apresentaram respostas negativas ao uso do pesticida. A equipe percebeu que maiores concentrações da substância na superfície das águas holandesas estão consistentemente associadas com a menor quantidade de pássaros, especialmente entre aqueles que se alimentam apenas de insetos. Nas áreas em que as concentrações são muito altas, a quantidade desses animais chegou a diminuir em até 3,5% ao ano. 

A equipe de Hallmann cogitou que o declínio poderia ser resultado de outras ameaças. “Por isso testamos se os declínios estavam presentes antes da introdução da imidacloprida, em 1994, mas não encontramos essa correlação”, diz o autor. “Concluímos, com isso, que o padrão espacial observado não tem relação com outros fatores. Esse achado sugere que é muito provável que a imidacloprida tenha contribuído para o declínio populacional dos pássaros locais”, completa o holandês.

Mesmo assim, o pesquisador ressalta que não é possível ter certeza absoluta de que o pesticida é o principal culpado, pois se trata de um estudo correlacional, que apenas observa a ocorrência de dois fenômenos paralelamente. Porém, a hipótese de que os produtos químicos dificultam o acesso a alimentos para os pássaros ganha força com os dados. Hallmann acrescenta que outras formas diretas de ação da substância podem influenciar o problema. É possível, por exemplo, que os pássaros estejam desaparecendo por ingerir o produto tóxico diretamente.